O procurador do Ministério Público Federal (MPF), Deltan Dallagnol, concedeu entrevista exclusiva ao programa Arapuan Verdade, da Arapuan FM, ocasião em que falou sobre o atual cenário do combate à corrupção no país. A participação do ex-coordenador da Lava-Jato, na última sexta-feira (12), repercutiu em todo o estado.
Dallagnol criticou o que chamou de ‘fomento à impunidade’ no país, reafirmou a legalidade das ações pela força-tarefa em Curitiba, inclusive em relação ao ex-presidente Lula (PT) e ainda teceu elogios à Operação Calvário, que ocorre na Paraíba.
Em trechos exclusivos e inéditos, o procurador também falou sobre o caso Vaza-Jato, publicado pelo site The Intercept com mensagens de integrantes da Lava-Jato e que, segundo advogados de investigados, mostram parcialidade da força-tarefa de Curitiba. Questionado sobre o assunto, Deltan Dallagnol minimizou o caso.
“A gente sempre seguiu os limites da lei da ética”. (ASSISTA NA ÍNTEGRA ABAIXO).
A Lava-Jato transgrediu?
Questionado se a Lava-Jato errou ao implementar o combate à corrupção, com possível afrontamento da legalidade, Dallagnol negou transgressões aos limites constitucionais e disse que objetivo do Ministério Público e da Lava-Jato é, segundo ele, “condenação do culpado e absolvição do inocente”. Mesmo assim, considera como naturais a reforma de decisões de tribunais superiores e o aperfeiçoamento do sistema de Justiça.
“Mas o que a gente vem vendo ao longo dos últimos meses não é um esforço para aperfeiçoamento, para que funcione melhor, mas sim um esforço contínuo para desmontar, tirar as bases desse modelo que permitiu a Lava-Jato acontecer”, disse.
Anulações do caso Lula
Dallagnol disse que o ex-presidente Lula foi julgado ‘conforme as regras do jogo’. Ele mencionou decisões que, segundo ele, levaram em conta os elementos apresentados no processo. “Na capa de rosto de todo político julgado por corrupção é dizer que está sendo perseguido. O que você tem que fazer é analisar as provas”, disse.
Ida de Sérgio Moro no Governo Federal ‘não deu certo’
A decisão de Sérgio Moro de assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública, segundo Dallagnol, teve como objetivo ‘tentar mudar as regras do jogo para avançar contra a corrupção’, mas acabou por fortalecer o argumento de que ele teria atuado de modo suspeito. “Argumento com o qual não concordo”, disse.
“Quem disse que se ele não tivesse tomado essa decisão os retrocessos não teriam sido muito piores? Eu não sei. Só Deus sabe. É muito difícil avaliar essa decisão. Ele foi uma pessoa que você pode criticar uma decisão? Pode. Mas Foi alguém que não ficou na sua zona de conforto. Saiu dessa zona de conforto para fazer o melhor para o país”, considerou.
Governo Bolsonaro
Não há projetos anti-corrupção na lista de prioridades do Governo Federal na gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na visão de Deltan Dallagnol. Ele também argumentou que é necessário que a gestão federal faça a defesa da democracia e não interfira em órgãos de investigação.
“A gente precisa que o Governo priorize projetos contra a corrupção, quando não há nenhuma proposta na lista de prioridades, que não exista interferência em órgãos públicos que investiga os casos e em terceiro lugar, que exista uma defesa da democracia muito consistente”, avaliou.
Operação Calvário
Questionado sobre a Operação Calvário, que ocorre na Paraíba, o procurador elogiou trabalho do Grupo de Atuação Contra o Crime Organizado (Gaeco), coordenado pelo promotor Octávio Paulo Neto.
“Eu tive o privilégio e honra de conhecer o promotor Octávio ao longo da Lava-Jato. É uma pessoa extremamente dedicada. Ele sempre agiu com muita inteligência e imparcialidade nas ações de investigação da Operação Calvário e representa mais um braço do Ministério Público no combate à corrupção”, afirmou.