Cuidar do social com controle de gastos: responsabilidade fiscal é desafio para Lula

Publicado por: Felipe Nunes em

Sem apresentar diretrizes claras de qual seria sua política econômica e não tendo anunciado sequer o futuro ministro da economia durante a campanha eleitoral, a declaração do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quinta-feira (09), sinalizando uma preferência pelo aumento de gastos em detrimento da responsabilidade fiscal, foi o bastante para causar pânico ao mercado, aos investidores e a economistas de diferentes matizes políticas.

A declaração de Lula deixou transparecer a ideia de que a política social de seu futuro governo deve ter prioridade sobre as eventuais preocupações com o equilíbrio fiscal do país. Ele colocou as duas preocupações como sendo opostas. A fala levou o Ibovespa, índice que reúne as maiores empresas listadas na B3, a perder R$ 156 bilhões em valor de mercado naquele dia.

“Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país? Por que que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos? É preciso fazer superávits? É preciso fazer tetos de gasto? Por que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gasto não discutem a questão social do país?”, indagou Lula.

A questão sucitada pelo presidente será um desafio para ele no futuro governo. Mas para a maioria dos economistas, representa uma “falsa simetria”, já que só é possível investir no social, de forma sustentável, sendo responsável com as contas públicas. Até mesmo economistas com visões mais progressistas sobre o mercado, a exemplo do paraibano Maílson da Nóbrega, um crítico do governo de Jair Bolsonaro, ressaltaram a importância do controle de gastos.

Em artigo na Veja, Mailson chamou de “irresponsável” a declaração de Lula sobre o aumento de gastos em detrimento da responsabilidade fiscal. “Quem se preocupa com o teto de gastos não é insensível à questão do social, ao contrário do que disse Lula. O problema tem a ver, vale repetir, com o risco de insolvência e com sua consequência mais grave, isto é, a inflação”, disse o paraibano.

O “medo” dos especialistas é que o presidente eleito repita a política adotada por sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), que pisou no acelerador dos gastos sem preocupar-se com as regras fiscais. Para o economista paraibano Werton Oliveira, a manutenção do controle fiscal é fundamental em qualquer cenário. “O controle fiscal é a base para que tenhamos um crescimento sustentável. Isso é fundamental para o país entender: se houver descontrole de gastos, teremos problemas com o crescimento e com a inflação”, avaliou.

Ainda segundo Werton Oliveira, o aumento de gastos tem como consequências diretas a elevação de impostos (para bancar as despesas) ou a emissão de moeda (o que eleva a inflação). Ambas as consequências são, portanto, ruins para o crescimento sustentável do país. “Aquela lua de mel com o presidente eleito agora caiu por terra”, avaliou Werton.

Mais reações

O ex-presidente do Banco Central no governo dois mandatos de Lula, Henrique Meirelles, disse na quinta-feira (10), em evento promovido pelo BTG Pactual para clientes do banco, que está “pessimista” com os indicativos do presidente eleito para a economia. “Só tenho uma coisa a dizer, boa sorte”, afirmou a investidores.

Segundo Meirelles, de acordo com a reportagem publicada pelo site O Antagonista, o presidente eleito estava sem falar sobre economia para não desagradar. “Hoje, começou a falar. Aí, ele começou a sinalizar uma direção à Dilma”, afirmou.  “Estou pessimista, não tenha dúvida”, afirmou. “Só posso dizer uma coisa a todos vocês: boa sorte”, concluiu.

O desafio será, portanto, gerir as políticas sociais sem esquecer do equilíbrio fiscal, crucial para o crescimento do país e, consequentemente, do bem-estar social.

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