
Inicio este artigo com um título pertinente para o cenário político do país. Há quem diga que desde as eleições de 2018, a esquerda brasileira rompeu relações com os evangélicos, que significativamente, compõem cerca de 30% da nossa sociedade.
Faço questão de situar aos leitores e leitoras, que nasci e cresci na Assembleia de Deus, maior denominação evangélica do país, com cerca de 22,5 milhões de membros no Brasil. Sem contabilizar nesse momento as outras tantas igrejas pentecostais, neopentecostais, tradicionais e reformistas, que fazem com que o ajuntamento de cristãos protestantes tenham se tornado uma parcela do povo brasileiro indispensável no diálogo sobre o futuro do Brasil.
Vivi as eleições de 2018 dentro da igreja, mas antes dela, o esgarçamento do diálogo entre os evangélicos e a esquerda brasileira já tinha se intensificado, o caso é muito mais complexo e não caberia nesse texto, mas dentre os motivos, entendo que o grande estopim se deu a partir da crise econômica vivenciada pelo país entre 2015/2018, que impactou financeiramente as classes C, D e E, extrato que representa mais de 80% da população evangélica no país, segundo a pesquisa “Diversidade Cristã” produzida pelo Grupo Globo.
Em tempos de crise econômica, o debate da pauta moral e de costumes (ponto de divergência entre evangélicos conservadores e progressistas) se amplia, além disso, parcela importante da sociedade (principalmente os evangélicos) já defendia bandeiras conservadoras nos costumes, deu-se então a junção de fatores perfeitos para esmagar uma relação que já tinha um grande patamar de complexidade.
O Instituto DataFolha após as eleições de 2018, identificou que em um universo de 31 milhões de evangélicos que foram às urnas no 2º turno, 21 milhões votaram em Bolsonaro e 10 milhões em Haddad, ou seja, uma diferença de 11 milhões de votos, semelhante a diferença global estabelecida entre os dois postulantes.
Oficializado o rompimento de diálogo entre a esquerda e os evangélicos, um erro se estabeleceu no seio do campo progressista: a tentativa de simplificação da população evangélica como sendo apenas “massa de manobra”, “alienados”, ou “fundamentalistas religiosos”.
Esqueceram que 80% dos evangélicos são trabalhadores que vivenciam a escala 6×1, com uma renda que varia entre 1 e 5 salários mínimos, que também passaram pelos tempos de bonança econômica e qualidade de vida dos Governos do PT, e que em ampla maioria estão localizados dentro das periferias do Brasil, tendo acesso limitado de políticas públicas efetivas, necessitando assim de um olhar mais atento do Estado.
O extrato socioeconômico do povo evangélico brasileiro é exatamente onde o PT atua com foco de políticas públicas. Portanto, nada explica o distanciamento ainda vivenciado pelo campo progressista com cerca de 30% da sociedade, que tem como figura sacra principalmente, um carpinteiro da Galileia que pregava “bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos.”
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