O jornalismo e a política são dois conceitos que estão intrinsecamente ligados desde o início da atividade jornalística, no século XVIII, até os dias atuais. Nesse percurso de tempo, essa relação se deu de forma distinta, desde a utilização dos jornais para a realização de propaganda política até a escolha pela objetividade e imparcialidade ao noticiar os acontecimentos.
O pesquisador Marcondes Filho (2000) traça uma linha do tempo em que sistematiza a relação entre esses dois conceitos. Ele defende a existência de quatro fases do jornalismo e mostra que, ao longo do tempo, o jornalismo deixou de ser uma atividade de propagada de ideias políticas para ser uma atividade profissional e com o objetivo de informar.
Essa mudança ocorreu mediante a transformação do jornalismo enquanto profissão, no contexto de fortalecimento do sistema capitalista. A atividade, porém, não deixou de noticiar os acontecimentos políticos nem de sofrer influências ideológicas ao longo do tempo, o que é até compreensível mediante às diferentes pressões às quais a atividade está submetida, inclusive das instâncias políticas e governamentais (Bordieu, 1997, p.104).
Sem levar em conta, neste momento, a contribuição importante de outros autores que discorrem sobre o tema, cabe-nos fazer uma reflexão: continua o jornalismo seguindo o caminho da objetividade, da correção, do respeito aos fatos, características inerentes e caras à profissão? Arrisco dizer que não.
Embora não deva ser considerado um equívoco ou um ‘erro’ a decisão de um veículo ou de um jornalista seguir uma tendência política e ideológica – pelo contrário, isto deve ficar sempre claro para o espectador, há uma linha tênue que deve ser sempre respeitada: a do respeito aos fatos. A atividade jornalística, por mais que seja influenciada por uma cosmovisão, precisa e deve respeitar os fatos, sem distorcê-lo em nome de fins políticos ou eleitoreiros.
Esta premissa, lamentavelmente, começa a ser esquecida com a aproximação das eleições de 2022. O vale-tudo, em algumas ambiências, tornou-se regra, assim como a desonestidade intelectual, a fim de promover uma agenda política, às vezes, igualmente desonesta e duvidosa. Mas isto não é regra.
Diante de tantas pressões e negociações tácitas que envolvem a cobertura política, o equilíbrio é um verbo que deve imperar na atividade profissional de todo jornalista, a fim de que a essência de informar com clareza e objetividade seja preservada. Que nós, jornalistas, sejamos escravos dos fatos, e não das narrativas. Esta parece ser uma premissa básica para 2022.
Feliz Ano Novo!
Texto adaptado de trabalho apresentado pelo autor do blog ao Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFPB (PPJ) em 2021.