Certa feita, o brilhante orador e analista político paraibano, Gilvan Freire, cunhou a expressão “Teoria dos abalos” para explicar determinadas reviravoltas políticas que marcaram a história da Paraíba, segundo a qual nas instabilidades e tremores sísmicos certos corpos físicos precisam se agarrar a outros para sobreviver. E serão mortos os que não se agarrarem.
É como se fosse um jogo de xadrez onde cada peça tem sua função específica e se move levando em consideração certos interesses, em nome de uma orientação tática. Tabuleiro, no caso, é a mesa, a base ou território por onde se desenvolve o jogo, cada jogador usando seu plano secreto na busca da sobrevivência.
Para as eleições municipais em João Pessoa, as principais peças do tabuleiro político são conhecidas, têm denominação própria e se movimentam em direção aparentemente clara, mas os planos secretos de cada um são os mistérios do jogo. Afinal, assim como no xadrez verdadeiro, para que algumas peças ganhem no tabuleiro, outras terão de perder. Faz parte. É a regra.
O atual prefeito Cícero Lucena (PP), franco favorito na disputa, conta com o apoio do governador João Azevedo (PSB) e tem sido um jogador arguto que opera na frente dos demais.
Ao contrário do que se esperava, o médico Marcelo Queiroga (PL), ex-ministro do governo Jair Bolsonaro (PL), que tem o apoio irrestrito do ex-presidente, não deve ser subestimado. Aliás, toda vez que um noviço entra no tabuleiro, o jogo não é mais o mesmo. Recomenda a arte mínima da guerra para toda vez que um oficial novo chegar ao generalato, os estrategistas terão de estudá-lo antes de montar as operações bélicas, especialmente se ele se revelar desafiador e belicoso antes mesmo de entrar nos confrontos e comandar as tropas.
O general adversário, Cícero Lucena, eleito prefeito três vezes, é talhado para grandes embates. Seus principais adversários, Ruy Carneiro e Luciano Cartaxo, estão sendo derrubados do tabuleiro.
Cícero não tem olhado muito o tamanho e a importância das peças postas no jogo. Olha o tabuleiro. Adota uma tática diferente para os padrões estabelecidos. Ele mira o território, avalia aonde quer chegar e, em vez de enfrentar logo as peças adversas, balança o tabuleiro – chacoalha tudo e abre seu próprio caminho. Acha que o único corpo que pode segurar os outros é o seu, como se fosse um ímã.
Há ainda alguém que pense que Marcelo Queiroga e Sérgio Queiroz, não possam se unir para ampliar o tamanho de ambos no esteio do eleitorado bolsonarista, que obteve metade dos votos de João Pessoa nas eleições de 2022.
O senador Efraim Filho (UB) e outras peças decisivas nessa turbulência podem ser juntadas pelos efeitos da gravidade e do terremoto.