Opinião: Quando os políticos do Nordeste serão cobrados e responsabilizados pelos desafios históricos da região?

Publicado por: Felipe Nunes em

População vivendo abaixo da linha de pobreza na Paraíba — Foto: André Resende/G1

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, está sendo duramente criticado por uma entrevista que concedeu ao jornal O Estado de São Paulo, neste domingo (06), em que defende a união dos estados da região Sul e Sudeste em torno de um Consórcio, o Cossud, para defender os interesses econômicos do grupo em votações ocorridas no Congresso Nacional.

O fato foi potencializado pela maneira como a entrevista foi interpretada inicialmente, colocando o político mineiro em uma posição contrária à região Nordeste, e por declarações dele que soaram ofensivas, ao utilizar expressões como “vaquinhas que produzem pouco”,  entendidas como uma referência à região, e “vaquinhas que estão produzindo muito” ao se referir ao eixo sul-sudeste.

Na entrevista, diga-se de passagem, o governador mineiro fazia uma crítica central ao texto da reforma tributária, que cria um fundo de desenvolvimento para as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte e deixa de fora a sua própria região. Nas palavras de Zema, “Agora, e o Sul e o Sudeste não têm pobreza? Aqui todo mundo vive bem, ninguém tem desemprego, não tem comunidade? Tem, sim”, argumentou.

Ainda segundo ele, “É preciso tratar a todos da mesma forma. As decisões têm que escutar ambos os lados e o Cossud vai fazer esse papel porque ninguém pode ignorar o peso de expressivo de 256 deputados na Câmara”.

É certo que o governador poderia ter deixado claro, durante a entrevista, que o seu problema não era (ou não deveria ser) contra o fato de o Nordeste ter um olhar especial em relação aos dilemas sociais, e sim para que isso não ocorra em detrimento de problemas também sentidos em São Paulo.

É certo que Zema poderia ter utilizado palavras mais assertivas em suas declarações ao fazer referência a uma região historicamente estigmatizada.

Mas, convenhamos, a culpa pelos desafios históricos enfrentados pelo Nordeste é muito menos do governador mineiro, que foi reeleito em 2022, e muito mais dos representantes da região, que pouco ou nada fizeram ao longo de anos para defender os 9 estados da região, com raras exceções.

É um fato histórico que oligarquias políticas, por muito tempo, atrasaram o desenvolvimento da região. Pouco se investiu em educação, saúde e saneamento básico de qualidade, e muito se fez para deixar milhares, durante anos, na dependência do carro-pipa para ter acesso a água de qualidade.

Os frutos são colhidos hoje. O Estado do Maranhão, que já foi governado pelo atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, é o mais pobre do país. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 1,5 milhão de maranhenses lutam diariamente para ter, pelo menos, o que comer.

A região Nordeste tem, pela terceira vez, um pernambucano na Presidência da República. É de se esperar que, até pela sua história, se sensibilize de fato com os graves problemas da região. É preciso muito mais do que se dizer contra a fome ou se colocar contra a pobreza. É preciso fazer com as pessoas progridam.

O que Lula faz, ao diminuir os repasses federais aos municípios pobres do Nordeste contraria seu discurso. 

É preciso que a população do Nordeste cobre mais de seus próprios representantes. Inclusive na urna. E que os políticos da região, sejam parlamentares federais, estaduais ou gestores, que se incomodaram com a declaração inapropriada de Romeu Zema, façam bem mais do que falar em uma rede social para mudar essa realidade.

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