Partiu. Não apenas o maior jogador de futebol da história, não apenas o maior atleta da história, mas o maior brasileiro da história.
Pelé é o fundador do Brasil. Em sua obra de fundação da nação, também trabalharam Santos Dumont, Villa-Lobos, Portinari, Tom Jobim, João Gilberto, Machado de Assis.
Mas Pelé foi o nosso inaugurador.
Uma nação é construída a partir de seus símbolos. Edson Arantes do Nascimento, ao ganhar três Copas do Mundo em quatro disputadas e marcar 1282 gols, mostrou ao mundo o negro brasileiro, pessoa comum e, ao mesmo tempo, tão incomum.
“Hoy no trabajamos porque vamos a ver Pelé”, dizia o cartaz mexicano em 1970. Ele parava os mundos onde pisava, e criava mundos quando pisava.
Há quem ache pouco ter um país reconhecido pelo futebol, coisa inútil, um jogo de pessoas correndo atrás de uma bola. Não existe felicidade reservada para utilitaristas.
Pelé é o Brasil, na cor e na bola, na alegria de viver, no conquistar troféus que sempre foram de outros, no representar gente simples e pobre, no desbravar campos de batalha e trazer a coroa do esporte mais popular do mundo.
O Brasil é o país do futebol e Pelé é seu rei. Vale afirmar isso agora, porque tornou-se moda a profusão de anacronistas que debocham do próprio país considerando algum outro o verdadeiro rei.
Mil elegias e escritos não darão conta de mensurar o que representa Pelé. Mas nós tentaremos. Eu o farei, ainda que triste, ainda que saudoso, pois sinto como se um parente meu me fosse arrancado.
Pelé é meu herói de infância e meus filhos saberão que ele foi o maior, mesmo que nenhum de nós o tenha visto jogar ao vivo. Obrigado, rei.
Por Natã de Sena, jornalista e cronista.