O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não completou um mês de existência, mas já deu sinais claros de que o discurso de pacificação nacional, repetido exaustivamente nas eleições de 2022, foi apenas retórica de campanha política, com o objetivo de angariar votos. O que se viu até aqui foi uma gestão de ímpeto revanchista no campo ideológico, com pouca responsabilidade na economia e com a paz social.
Esses primeiros dias foram marcados por uma prematura radicalização do debate sobre costumes, com revogação de portaria que determinava a comunicação às autoridades policiais em caso de aborto ocasionado por estupro, e com a implementação da chamada “linguagem neutra” em eventos oficiais. Na economia, aumento de gastos sem a esperada responsabilidade fiscal e o direcionamento para que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) volte a financiar projetos faraônicos em países vizinhos.
Parece ironia, mas é impossível não olhar para esse pacote de medidas e não fazer um paralelo entre o Brasil de 2023 e o romance distópico 1984, de George Orwell, onde os cidadãos de Oceania (país fictício da obra literária) eram constantemente vigiados e controlados pelo Grande Irmão (o partido), num cenário de guerra constante, distorção da linguagem, vigilância governamental e manipulação da história.
No governo fictício, as coisas funcionavam a partir de uma distorção semântica. ‘Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força’ era o lema oficial. Parece uma grande coincidência com o Brasil. Quem esperava um Lula paz e amor, vê um presidente pregando a paz com um discurso bélico; quem aguardava a participação de forças moderadas no seio do Governo, vê uma gestão marcada pela política radical contra opositores.
Se em 1984 havia o Ministério da Verdade, responsável por manipular as informações e tornar a mentira uma verdade, o governo brasileiro anunciou a criação do chamado “Departamento de Promoção da Liberdade de Expressão”, estrutura que será responsável por fiscalizar peças de “desinformação” nas redes sociais. Anunciado no início da gestão, o mecanismo ganhou impulso após os atos de vandalismo ocorridos em Brasília no último dia 08. Alguém acredita na isenção de um governo político para definir o que é a verdade?
E para completar o paralelo com 1984, durante a agenda na Argentina, ao confirmar o retorno do BNDES no financiamento de obras no exterior, o presidente Lula criticou o que chamou de “ignorância” da população sobre o assunto, apostando no esquecimento do passado, quando ditaduras estrangeiras aplicaram calotes bilionários ao Brasil, onerando na ponta o pagador de impostos, que é quem paga a conta.
Fica claro, enfim, que o início do governo petista demonstra que é o presidente Lula quem aposta na ignorância. O presidente, que não perde tempo ao dizer que herdou uma “herança maldita” no Brasil, ainda fez elogios à economia da Argentina, que está em frangalhos, e defendeu ‘a democracia” enquanto estava ao lado de aliados internacionais que não respeitam a soberania popular nem as liberdades individuais em seus territórios. Lula pratica a política do “duplipensar”, tal qual 1984.
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