A vacinação indevida de 60 crianças no município de Lucena, no litoral norte da Paraíba, é mais um retrato do descaso completo em que se encontra a cidade em relação aos serviços públicos mais básicos oferecidos à sua população. A situação é tão escandalosa que, os pormenores de como o episódio aconteceu, revelam as entranhas de um completo abandono.
O improviso impressiona e estão enumerados a seguir: 1) a vacinação ocorreu antes de autorização de órgãos governamentais superiores; 2) os imunizantes estavam totalmente vencidos; 3) os produtos eram para a população adulta; 4) uma criança de quatro anos, fora do público alvo, foi vacinada; 5) as autoridades locais alegam desconhecimento e colocam a culpa em apenas uma aplicadora.
O episódio repercutiu nos principais veículos de comunicação do país, levando a Secretaria de Saúde do Estado (SES) a assumir a responsabilidade de vacinar as crianças naquela cidade. A intervenção estadual desnuda uma cidade incapaz de levar a cabo a imunização dos seus pequenos moradores, um atestado de inapetência de cada um dos seus gestores.
Dito isso, algumas perguntas precisam ser colocadas: onde estavam, enquanto tudo isso acontecia, o prefeito municipal e sua equipe de secretários? Como uma profissional foi capaz de iniciar uma vacinação em 60 crianças sem que ninguém tivesse conhecimento? De que maneira tem sido feita a divulgação da campanha de imunização para a população da cidade? São questões que precisam ser respondidas no procedimento aberto pelo Ministério Público Federal (MPF) para investigar o caso.
Em breve nota publicada nas redes sociais, a prefeitura da cidade diz lamentar ‘profundamente’ o episódio, mas não pede desculpas aos pais das crianças. Na publicação, que restringe comentários dos internautas, a gestão alega que a decisão em aplicar as vacinas teria partido de uma auxiliar, de forma ‘individual’, e diz ter colocado à disposição das famílias um acompanhamento médico.
No mais, o que já se sabe é: repetiu-se na saúde de Lucena aquilo que já acontece em outros setores. Uma cidade que não cuida do próprio lixo. Onde, na praia, carros dominam, e não os banhistas. Onde áreas ambientais são violadas e nada acontece. Onde a infraestrutura fica a desejar. Onde o brilho da natureza é sufocado pelo atraso do setor público. Um município que, apesar do seu potencial, ainda não encontrou o caminho do seu próprio futuro.
Felipe Nunes