Raquel Antunes da Silva tinha apenas 11 anos de idade e não resistiu aos ferimentos do grave acidente em um carro alegórico de escola de samba no Rio de Janeiro. Ela teve uma das pernas dilacerada ao ser imprensada entre a estrutura de metal e um poste, vindo a falecer nesta sexta-feira (22).
Apesar da gravidade dos acontecimentos que marcaram o início dos eventos carnavalescos, a repercussão do caso ficou aquém do esperado se levarmos em consideração o engajamento da imprensa brasileira e da classe artística em outras situações. Bastaria que os personagens causadores da catástrofe fossem outros.
Mas o luto causado pelo Carnaval rendeu apenas a ‘notícia’ do fato, pouca cobrança, quase nenhuma contundência e algumas notinhas de lamentação de autoridades cariocas. Nada que pudesse atrapalhar o andamento dos megadesfiles na famosa Marquês de Sapucaí.
Sob os aplausos de artistas supostamente preocupados com o bem-estar social, o Carnaval carioca teve sua continuidade em meio à morte de uma criança pobre, negra e da periferia, características que, em tese, aumentam a sensibilidade de alguns dos famosos que desfilaram seus corpos seminus na avenida.
Do momento em que foi imprensada pelo carro da escola ‘Em cima da Hora’, até a hora da morte, Raquel passou por um sofrimento cruel. Traumatismo no tórax, parada cardiorrespiratória e respiração por aparelhos. Mas nada foi capaz de parar o samba-enredo da indiferença.
O episódio é a prova de como parte da classe artística, com exceções, é mesmo movida por um sentimento hipócrita e de ocasião. A imprensa, nesse caso, também deixou a desejar no seu papel fiscalizador sobre os responsáveis pela perda de uma vida humana.
Imaginemos, por fim, apenas de maneira hipotética, se a morte da criança tivesse ocorrido em uma dessas motociatas presidenciais pelo país… a mobilização seria total. E com razão. Mas, sabemos, impulsionada por um duvidoso sentimento de solidariedade e de indignação.
Felipe Nunes