A vinda de Bolsonaro à João Pessoa na última sexta-feira (12) deveria ter sido acima de tudo um demonstrativo de força e unidade para a direita pessoense. A meu ver, a missão esteve longe de ser cumprida. Embora o ex-presidente da República tenha comprovado sua popularidade ao arrastar multidões pela grande João Pessoa e lotar todos os espaços em que se dispôs a estar ao longo de seus dois dias de estadia por terras paraibanas, a vinda de Bolsonaro à terra de Epitácio Pessoa não conseguiu colar a louça destruída por meses de disputas por poder e espaço na terra em que a direita vê o sol nascer primeiro.
Ao mesmo tempo que a presença de Bolsonaro em João Pessoa rendeu aos seus apoiadores um momento festivo que permitiu que uma parcela população estivesse ao lado do líder político que tanto admira e que nomes da direita que aqui reside capitalizasse com a proximidade ao longo desses dois dias de presença com “O Capitão”. Capitão do Exército Brasileiro, Bolsonaro é tratado como generalíssimo da direita brasileira.
E foi assim que foi recebido na Paraíba, desfilou em carro aberto por diversos bairros da Capital paraibana, recebeu títulos e honrarias na Assembleia Legislativa da Paraíba (Bolsonaro foi tão incensado na casa do legislativo paraibano, que já se fala até mesmo que Epitácio Pessoa teme que a casa deixe de lhe render homenagem e passe a ser chamada de Casa de Bolsonaro), reuniu aliados em dois eventos privados em casas de shows da cidade e conseguiu causar caos no trânsito pessoense a cada novo lugar para onde ia e era seguido por uma multidão ansiosa por estar em sua presença.
Ou seja, façamos a leitura clara dos fatos como eles foram, com exceção de qualquer pessoa que busque fazer leitura enviesada dos fatos, é impossível negar que a passagem de Bolsonaro pela grande João Pessoa trata-se do mais absoluto sucesso. Sucesso do ponto de vista da confirmação que Bolsonaro é a grande liderança da direita na Paraíba e no Brasil. O cidadão paraibano Bolsonaro, arrasta multidões também neste estado, apesar do que possa querer dizer a esquerda de nossa terra. Com isso ele se confirmou como o líder que tem que ser seguido e obedecido não apenas no Rio de Janeiro, na Região Sudeste ou em qualquer outra localidade que seja, mas também na Paraíba, para ser de direita tem que demonstrar fidelidade a Bolsonaro se quiser ter o apoio popular da grande massa arrastada pelo ex-presidente da República.
O Fracasso
Nesse sentido que precisamos entender onde fracassou a agenda de mais de 24 horas com o ex-presidente da República em território paraibano. A falha reside em dois fatores principais: a clara constatação de que a direita paraibana sofre de uma grande dificuldade de dialogar com a parcela da população que lota as ruas em busca de Bolsonaro e da divisão que há hoje dentro da direita paraibana e que é impossível de ser disfarçada.
O primeiro fator é inegável, a direita paraibana escolheu ambientes altamente elitizados para realizar seus eventos com Bolsonaro em João Pessoa. Por que casas de shows e salões de eventos que claramente não comportariam a totalidade da massa que desejava ver pessoalmente o ex-presidente não se realizou um evento aberto com palco ao ar livre nas areias de Tambaú ou de qualquer outro local de reunião popular para que Bolsonaro agregasse o maior número de seguidores possível? Por que uma busca tão grande por exclusividade quando o que se deveria ter buscado era garantir a aproximação entre Bolsonaro e o povo?
Mas o primeiro fator seja apenas mais uma consequência da segunda constatação que fizermos já na sexta-feira. Dentre a militância da direita, o que não faltou foram descontentes com a organização do evento. Mesmo dentro do PL, partido de Bolsonaro, o que mais existiam eram castas que segregavam os apoiadores pessoenses e paraibanos do ex-presidente dentre castas de importância. Para os bolsonaristas que não são filiados ao PL o tratamento foi ainda mais frio, muitos reclamaram da dificuldade para conseguirem se fazer presentes na agenda cumprida por Bolsonaro em João Pessoa e Cabedelo.
Pré-candidatos barrados em porta de hotel, pessoas que simplesmente descobriam ter tido seus nomes cortados de listas para entrarem na sessão solene de entrega dos títulos de cidadania ao ex-presidente da República e diversas outras situações incomodas demonstraram que hoje há na visão do PL de João Pessoa membros de primeiro e segundo escalão. Como esse partido conseguirá fechar questão e disputar as eleições de outubro com pretensões de eleger um prefeito e ampliar o tamanho de sua bancada na Câmara Municipal de João Pessoa segue um mistério para aqueles que observam todo o cenário de fora.