O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, determinou a suspensão imediata das transmissões de missas ao vivo e das atividades do padre Júlio Lancellotti nas redes sociais. A decisão, comunicada diretamente ao religioso, também abriu a possibilidade de sua saída da Paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, onde ele atua há mais de 40 anos.
O próprio padre confirmou a ordem durante uma celebração no domingo (14), ao informar aos fiéis que aquela seria uma das últimas missas transmitidas publicamente. As celebrações vinham sendo exibidas pela Rede TVT e pelo YouTube. Segundo Lancellotti, a orientação partiu do cardeal como uma forma de “recolhimento e proteção”. “Tenho apenas que obedecer”, afirmou.
Reconhecido pelo trabalho com a população em situação de rua, o padre tem sido alvo de ataques de parlamentares de direita. Recentemente, o deputado federal Junio Amaral (PL-MG) afirmou ter levado ao Vaticano um abaixo-assinado pedindo seu afastamento.
Sobre a possível retirada da paróquia, Lancellotti disse que não há decisão oficial. Ele lembra que padres podem ser aposentados a partir dos 75 anos (ele completa 77 neste mês), mas que a medida depende da necessidade da Igreja. Até agora, a Arquidiocese de São Paulo não oficializou seu afastamento.
Contexto
Conhecido nacionalmente pela defesa de pessoas invisibilizadas, especialmente a população em situação de rua e a comunidade LGBTQIA+, padre Júlio tornou-se alvo frequente de campanhas de desinformação, processos judiciais e ofensivas de grupos extremistas de direita.
Além da atuação social, Lancellotti também ganhou projeção por críticas à chamada “arquitetura hostil” em São Paulo e por posicionamentos públicos contra a ofensiva israelense em Gaza, que ele classificou como genocídio da população palestina. Seu trabalho mais recente inclui a Biblioteca Wilma Lancellotti, inaugurada no bairro do Belém, que já reúne cerca de três mil livros e promove rodas de conversa e acesso à leitura para pessoas em situação de rua.
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