08 de março: mulheres conservadoras buscam mais espaços na política da Paraíba

Publicado por: Felipe Nunes em

Há apenas 90 anos as mulheres conquistaram seu direito ao voto no Brasil e, para quem acompanha a importância da luta delas por direitos e por respeito às suas escolhas e decisões, nem imagina que os desafios e os obstáculos ainda persistem. Apesar da premissa de que ‘lugar de mulher é onde ela quiser’, isso nem sempre se aplica na prática.

Em âmbito estadual, elas representam 52,8% do eleitorado paraibano e já ocupam espaços em prefeituras (foram cerca de 37 mulheres eleitas em 2020), nas Câmaras Municipais, na Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) e até no Poder Executivo Estadual, com a vice-governadora Lígia Feliciano (PDT). Elas também são representadas no Senado por Daniella Ribeiro (PP) e Nilda Gondim (MDB).

Um grupo de mulheres, entretanto, tem emergido por valores que ficaram cristalinos nas eleições de 2018, mas que estão permeados na sociedade brasileira há bastante tempo: o conservadorismo, pensamento político que, em síntese, se opõe às ideias ‘revolucionárias’ e defende a manutenção de instituições sociais tradicionais, como a família, a religião, a Igreja, além de outros costumes considerados históricos.

Eliza Virgínia

Em João Pessoa, a única vereadora mulher eleita em 2020 se declara como cristã e conservadora. No cargo desde 2009, Eliza Virgínia (PP) pretende ser candidata a deputada federal em outubro. Na Câmara, tem se destacado por pautas relacionadas à educação de jovens e crianças, pessoas com deficiência e discussões sobre políticas públicas do Poder Executivo municipal.

Apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (PL), a parlamentar cita como uma de suas inspirações a conservadora Margaret Thatcher, ex-primeira-ministra do Reino Unido, primeira mulher a ocupar este cargo na Europa e a única a vencer três eleições no século 20.

“Temos na Bíblia o maior manifesto a favor das mulheres: mulher virtuosa, quem a achará? A mulher sempre trabalhou, sempre teve destaque. Margareth Thatcher está aí para provar e sempre dizia que não deve nada ao feminismo”, disse Eliza em mensagem ao blog.

A presença de Eliza Virgínia, entretanto, pode ser só o começo. É que já há uma fila de mulheres conservadoras e paraibanas dispostas a participarem da disputa eleitoral em outubro e, consequentemente, do debate político de forma mais ativa.

Emilly Coelho

Auxiliar da ministra Damares Alves, a Secretária Nacional da Juventude do Ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, a paraibana Emilly Coelho, avalia disputar uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PRTB. “É possível [a pré-candidatura]”, confirmou em mensagem ao blog recentemente.

Advogada, Emilly também frequenta a igreja batista Cidade Viva em Brasília. Segundo ela, a possibilidade de participar do pleito se baseia na “necessidade de mudança do cenário político do meu estado”. “Precisamos parar de reclamar que não temos opção e fazer algo em relação a isso”, acrescentou.

Leila Fonseca

Tendo como lema ‘uma voz em defesa do conservadorismo’, a professora universitária Leila Fonseca é um desses exemplos. Com histórico de disputas recentes, ela pretende ser candidata a deputada estadual em outubro.

Em 2014, concorreu ao cargo de senadora, tendo ficado em 4º lugar, com uma votação expressiva, próxima a 50 mil votos, mas não suficiente para a eleição. Em 2020, foi candidata a vice-prefeita de João Pessoa. Em publicações na internet, Fonseca defende pautas como a vida, a legítima defesa, a propriedade privada e a liberdade religiosa.

Em vídeo divulgado no dia 22 de fevereiro, inclusive, fez uma postagem sobre ‘o que é ser uma pessoa conservadora’. “Ser conservador é ser um reformador, adequar normas, leis e costumes, mas sem ferir princípios”, resumiu.

Assista ao vídeo a seguir

Morgana Macena

Considerada uma espécie de ‘matriarca’ do conservadorismo paraibano, a odontóloga e ativista social Morgana Macena anunciou na última sexta-feira (04), em vídeo publicado nas redes sociais, sua filiação ao PRTB. Ela deve concorrer à Câmara Federal, tendo como lema pautas como políticas para a unidade da família, os Direitos Humanos e o patriotismo.

Embaixadora cultural da Associação Duna, Morgana foi indicada pela organização para o Prêmio Nobel da Paz em 2019, junto ao Nobel Institute de Oslo, na Noruega, devido ao seu trabalho em prol dos direitos, da segurança, da proteção, da educação, da paz e do bem-estar infantil. No mesmo ano, recebeu a Medalha de Honra ao Mérito Senador Humberto Lucena da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB).

Pâmela Bório

A ex-primeira-dama da Paraíba, a jornalista Pâmela Bório, se filiou ao Partido Liberal (PL) para disputar, em outubro, um mandato na Câmara dos Deputados. Em suas redes sociais, predominam as pautas conservadoras, mas também temáticas mais polêmicas com críticas a medidas restritivas em torno da pandemia da Covid-19.

Em 2018, Pâmela foi candidata a deputada estadual, ficando na suplência. Em 2020, disputou o cargo de vereadora, não tendo sido eleita. No dia 26 de fevereiro, ela fez uma publicação com uma reflexão sobre os 90 anos do voto feminino no Brasil.

“Mas ainda hoje não temos a devida representação: apesar de nós mulheres sermos a maioria da população e também do eleitorado, somos minorias em todos os espaços de poder. Sim, mulheres não estão votando em mulheres, mulheres não estão apoiando mulheres e partidos só têm usado mulheres como caldas e para preenchimento de cotas”, disse.

Conforme fontes oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a primeira prefeita do país foi Alzira Soriano, eleita para comandar a cidade de Lajes (RN), com 60% dos votos. Tomou posse no cargo em 1º de janeiro de 1929. Em sua administração, promoveu grandes transformações na infraestrutura local.

93 anos depois, as mulheres alcançaram um longo percurso na política, com suas diferenças e diversidades. Em um novo contexto de país, de um lado, progressistas, do outro conservadoras, refletindo os traços de uma sociedade polarizada e cada vez mais politizada. Lugar de mulher, vale reforçar, é onde ela quiser estar.

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