Apesar do curto espaço de tempo, a sensação é de que o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já começou há mais de um ano, seja por decisões arriscadas no campo da economia, por declarações polêmicas do presidente petista ou por escândalos já produzidos por alguns de seus ministros. Há sinais de desgastes evidentes na opinião pública.
Se pudéssemos comparar o governo a um navio, o Capitão Lula já deveria se preocupar em substituir alguns de seus tripulantes. Sem levar em conta os casos pregressos, que envolvem uma dúzia de ministros em processos na Justiça, de acordo com levantamento do Poder360, mais graves são os fatos que vieram à tona após a posse do novo governo, em 01 de janeiro.
O último dos escândalos envolve o ministro da Integração Nacional, Waldez Góes, que de acordo com reportagem do Jornal O Globo, autorizou uma obra de R$ 100 milhões, na véspera de deixar o governo do Amapá, e entregou a execução a um suplente do senador Davi Alcolumbre (União) que atuou para ele se tornar ministro de Lula. A obra deve ser executada com recursos do chamado “orçamento secreto”.
Segundo O Globo, após a contratação no apagar das luzes, Góes voltou ao Amapá há 15 dias para assinatura da ordem de serviço da obra, desta vez já como ministro da Integração. O empreendimento será executado por meio de convênio do governo local, agora comandado por Clécio Luís, seu aliado, com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), subordinada à pasta da Integração Nacional.
O ministro que gosta de cavalos
Mas, o rosário de más notícias é maior do que se imagina. O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, é o campeão em manchetes negativas. De acordo com reportagens do Estadão, o deputado federal licenciado já mandou emendas para asfaltar uma estrada que corta a própria fazenda em Vitorino Freire (MA), enviou informações falsas à Justiça Eleitoral para comprovar voos não realizados durante a campanha e, agora, usou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e diárias para participar de leilões de cavalos de raça em São Paulo.
Recentemente, ele utilizou avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e recebeu diárias pagas pelo governo para participar de leilões de cavalos de raça que chegam a valer mais de R$ 1 milhão. Todos os compromissos foram omitidos da agenda oficial do ministro. Após a repercussão, ele informou por meio de nota que fez a devolução dos recursos usados de forma indevida.
A ministra e suas ligações perigosas
Tendo chamado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de miliciano durante a campanha, o Capitão Lula tem agora uma tripulante do seu “navio” supostamente ligada a milicianos. É o que tem noticiado exaustivamente veículos de imprensa como a Folha de São Paulo sobre a ministra do Turismo, Daniela Carneiro.
Reportagens publicadas em janeiro mostram que ela manteve elo político com o ex-PM Juracy Prudêncio, conhecido como Jura, condenado por comandar uma milícia na Baixada Fluminense, e o ex-vereador Marcio Pagniez, o Marcinho Bombeiro, preso preventivamente sob acusação semelhante. As fotos com eles são abundantes.
A demora de Lula em fazer o que é certo
Questionado por jornalistas, o presidente tem se esquivado em anunciar ou tomar medidas imediatas, admitindo que ministros poderão sair do governo se houver a comprovação dos atos ilícitos. Ocorre que, diferentemente dos seus primeiro e segundo mandatos, Lula tem agora uma oposição mais consistente, tanto no Congresso quanto nas ruas, e uma imprensa que já conhece o que aconteceu no verão passado.
Marcado por um passado envolto no mar da corrupção, fato que nem as condenações anuladas por filigranas jurídicas são capazes de apagar da história, se não tomar medidas efetivas para alterar o rumo de seu navio, o Capitão petista poderá enfrentar ondas turbulentas e tempos sombrios pela frente. A curto ou médio prazos.
Felipe Nunes