Mersinho: voto polêmico em meio ao diálogo de Cícero com PT – Por Nonato Guedes

Publicado por: redacao em

O deputado federal Mersinho Lucena, ainda filiado ao PP da Paraíba mas em processo de desfiliação da legenda, criou ruídos para o diálogo do seu pai, Cícero Lucena (MDB), prefeito de João Pessoa, com líderes do Partido dos Trabalhadores, ao votar a favor do projeto de lei da dosimetria aprovado na Câmara dos Deputados esta semana, prevendo redução de penas para acusados de tentativa de golpe de Estado e favorecendo o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Como se sabe, Cícero está em pleno processo de negociação com o PT local para assegurar apoio à sua pré-candidatura ao governo, numa engenhosa articulação conduzida diretamente pelo senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente do MDB no Estado e “lulista” de carteirinha. O prefeito anunciou engajamento na campanha de Lula à reeleição, que é uma prioridade para o PT nacional. Em termos locais, o apoio do PT ao governo paraibano é cortejado, também, pelo esquema do governador João Azevêdo (PSB), com quem Cícero rompeu, para respaldar a pré-candidatura do vice-governador Lucas Ribeiro (PP) ao Executivo. Nas palavras da dirigente estadual petista Cida Ramos, deputada estadual, a posição de Mersinho cria problemas para a coligação com a candidatura do seu pai porque pressupõe desalinhamento com as pautas defendidas ardorosamente pelo petismo nos embates travados na Câmara Federal com parlamentares remanescentes do bolsonarismo. Pelo sim, pelo não, tanto o senador Veneziano como o prefeito Cícero e o deputado Mersinho caíram em campo nas últimas horas para minimizar o peso da divergência e evitar ruptura do diálogo que vinha sendo encetado. O grupo oposicionista acena ao PT a vaga de vice-governador na chapa de Cícero, além de perspectiva de participação num eventual governo emedebista, embora a vice tivesse sido oferecida, também, aos Cunha Lima, que estão no PSD. Mersinho não deverá se filiar ao MDB mas estará na linha de frente da campanha do pai. Em fala, ontem, na Rádio Arapuan FM, o deputado respondeu às declarações da presidente Cida Ramos explicando que não houve mudança de posição no seu voto polêmico e que sua decisão seguiu “a mesma coerência” que já havia demonstrado em votações anteriores. Na verdade, Mersinho nunca foi listado com alto “índice de governismo” na votação de matérias de interesse do presidente Lula e de sua gestão, tampouco tem histórico de alinhamento com o PT, o mesmo se dando com seu pai. Na campanha de 2022, quando se engajou à reeleição do governador João Azevêdo, Mersinho abriu um vistoso comitê eleitoral na avenida Epitácio Pessoa que sinalizava opção pelas candidaturas de Azevêdo e do então presidente Jair Bolsonaro, contrariando a lógica do cenário vigente na Paraíba. Este ano, diante dos rumos tomados por Cícero e da aproximação ensaiada por Veneziano com o PT, Mersinho pontuou que trabalhará pela reeleição do presidente Lula e disse que tem apoiado pautas importantes enviadas ao Congresso pelo governo federal. O argumento do parlamentar é o de que seu voto não deveria ser interpretado como motivo de afastamento político, comparando sua postura com a de outros atores que, na sua visão, já mudaram de posição em momentos decisivos da política nacional. “Imaginem aqueles que foram ministros da presidente Dilma, contavam votos contra o impeachment na véspera e no “Dia D” votaram pela cassação. O PT deve se alertar para essas situações”, afiançou. Ele se referia, indiretamente, ao seu ex-chefe, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, líder do Progressistas, que foi ministro das Cidades de Dilma Rousseff mas, de fato, votou pelo seu impeachment, decretado sob a alegação de ter cometido pedaladas fiscais. Mersinho evitou mencionar que o próprio Veneziano, quando deputado federal, foi favorável ao impeachment de Dilma Rousseff, já que sua meta é projetar o futuro. Num aspecto, o parlamentar tem razão: quando afirma que “pelo menos” teve coragem para fazer valer o que a sua consciência manda e os valores em que realmente ele acredita. Político que atua no campo da centro-direita, Mersinho evita envolver-se em debates ideológicos, principalmente sobre temas polêmicos que têm contaminado tanto a Câmara como o Senado Federal, centrando-se em propostas genéricas focadas no interesse de segmentos sociais e nas bandeiras importantes para a Paraíba. A respeito da dosimetria de penas prevista em projeto de lei que tenta disfarçar uma espécie de anistia para favorecer o ex-presidente Jair Bolsonaro, Mersinho justificou que considerou excessivas muitas das condenações atribuídas pelo Supremo Tribunal Federal a acusados de participação em atos golpistas. Esse ponto, para ele, é questão de honra, noves fora o ranger de dentes da deputada Cida Ramos e de petistas mais radicais que reivindicam alinhamento incondicional. O senador Veneziano é algodão entre cristais nessa crise para não inviabilizar o acordo MDB-PT nas eleições de 2026.

O post Mersinho: voto polêmico em meio ao diálogo de Cícero com PT – Por Nonato Guedes apareceu primeiro em Polêmica Paraíba.

Share

Você pode gostar...