No momento em que a equipe de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), começa a projetar e anunciar medidas para o início do futuro governo, iniciando negociações com deputados federais e senadores a fim de abrir espaços no orçamento para bancar as promessas de campanha, ainda é cedo para avaliar qual será a relação do futuro presidente com os deputados e senadores.
Há, no entanto, uma preocupação no núcleo petista com a governabilidade. A busca por aproximação com os parlamentares que vão compor o Congresso Nacional já começou.
Apesar de ter sido eleito com forte apoio ideológico de setores do PT ressentidos com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, com a prisão de Lula e com a derrota de pautas de costumes no Congresso Nacional, o novo governo petista terá que abrir espaços se quiser ter governabilidade. Lula vai governar com um Congresso ainda mais conservador nos costumes e liberal na economia.
Da Paraíba, a expectativa é que maioria dos parlamentares federais estejam na base lulista, embora parte considerável possa adotar uma postura de independência em relação às pautas que deverão entrar em votação. Dos parlamentares que, a preço de hoje, pertencem à base petista, destaca-se Luiz Couto (PT), Gervásio Maia (PSB), Damião Feliciano (União), Wilson Santiago (Republicanos) e Aguinaldo Ribeiro (PP).
No caso de Wilson, que pertence a um partido atualmente da base bolsonarista, já defendeu que a legenda migre para a base petista. Mas há uma tendência de que o partido assuma uma postura de independência. No caso de Damião Feliciano, já existe uma expectativa de que o União Brasil, com o aval do presidente nacional da legenda, deputado Luciano Bivar, feche apoio a Lula.
Em relação a Aguinaldo Ribeiro, ex-ministro das Cidades do Governo Dilma, o apoio do parlamentar já era esperado, embora faça parte de um partido do Centrão. Ex-integrante do governo petista, o deputado não esconde a boa relação que mantém com o PT, tendo se reunido com a presidente nacional da legenda, Gleisi Hoffmann, durante a campanha eleitoral. Mais à esquerda, os apoios de Luiz Couto e Gervásio estão garantidos.
Outro apoio natural ao presidente eleito é o de Veneziano Vital do Rêgo, senador da República, que tem relação próxima de Lula e conta com o carisma do petista. No primeiro turno, o ex-cabeludo recebeu o apoio de Lula como candidato ao Governo do Estado, mas acabou perdendo o pleito e ficou em quarto lugar.
Independentes
Pelo menos cinco parlamentares tendem a adotar uma postura mais independente no Congresso Nacional, já que fazem parte de partidos ou têm visões econômicas ou de costumes diferentes daqueles defendidos pelo PT. Esse é o caso dos eleitos Romero Rodrigues (PSC) e Mersinho Lucena (PP) e do reeleito Ruy Carneiro (PSC).
Ao Agenda Política, Ruy ressaltou o caráter “consciente” de seus posicionamentos. “Tenho uma postura sempre independente, pois se eu não estiver convicto do que eu estou votando, o partido pode até apoiar que para mim isso é indiferente. Tenho postura independente”, reafirmou.
Filiado ao PP, Mersinho Lucena disse que pretende conversar com o presidente nacional do partido, o atual ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, antes de tomar uma posição. Ele sinalizou, no entanto, que os interesses do estado serão o foco do seu mandato, e não pautas do presidente eleito ou da oposição ao Governo Federal. Ele também defende que os palanques sejam “desarmados”.
“Minha posição será o que for melhor para a Paraíba. Temos que ter resiliência, diálogo, pois o momento do país não é fácil”, disse. “Eu particularmente acredito que pela nova configuração do Congresso e pela divisão que aconteceu no país, o presidente Lula terá um Congresso muito mais vigilante e fiscalizador. Ele terá uma missão difícil”, acrescentou Mersinho.
Questionada, a senadora Daniella Ribeiro (PSD) e o deputado federal Hugo Motta (Republicanos) não responderam à reportagem, mas a julgar pela posição que adotaram no Governo Jair Bolsonaro, a tendência é que assumam, também, uma posição de independência no Goveno Lula, dependendo do tema em discussão na Câmara e no Senado. No campo econômico e na pauta de costumes, por exemplos, ambos têm visões mais “conservadoas” em relação ao governo petista.
Oposição
A minoria dos parlamentares paraibanos estará na oposição ao Governo Lula. Esse é o caso do deputado federal Cabo Gilberto (PL), que pertence ao grupo de “leais” ao presidente Jair Bolsonaro (PL). O deputado federal Wellington Roberto, presidente estadual do PL, também deve manter uma postura de oposição ao novo governo, pelo menos no início do futuro governo. O senador eleito da Paraíba, Efraim Filho (União), também indicou o caminho da oposição.
O presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar, já disse que não fará oposição a Lula, “de jeito nenhum”, mas Efraim Filho está disposto a integrar uma oposição “responsável” ao governo petista, compondo uma frente libera-conservadora ao novo governo. Ele pretende levar essa posição para dentro do partido. “Não irei baixar a cabeça para o PT”, disse ele, de forma enfática, ao programa Frente a Frente, da TV Arapuan, na semana passada.
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