Entre a saudade e as músicas no piano: Fátima revela bastidores de livro sobre José Maranhão; VÍDEO

Publicado por: Felipe Nunes em

Fátima Bezerra detalha obra ‘O Voo do amor’ / Fotos: Felipe Nunes

Uma história baseada no amor e na perseverança. Uma frase que define a relação duradoura entre a desembargadora Fátima Maranhão e o ex-governador da Paraíba, José Targino Maranhão. Um enlace que começou num voo, que resistiu ao tempo de 40 anos, entre alegrias, tristezas, altos e baixos, mas que só foi desfeito com a morte do político, em 2021, vítima da desconhecida Covid-19.

A Paraíba acompanhou com grande expectativa o convalescimento do então senador. Enquanto ele lutava pela vida, primeiro no Hospital da Unimed, em João Pessoa, e depois no Villa Nova Star, em São Paulo, Fátima compartilhava nas redes sociais crônicas emocionantes e emocionadas, escritas de dentro do hospital, com pensamentos sobre cada último instante ao lado do marido.

Era uma forma de escape e de aproximação com Deus e com milhares de eleitores e amigos de “Zé”, como era conhecido, carinhosamente, o senador. Esses textos vão estar no livro “O voo do amor”, escrito por Fátima, e que será lançado na segunda-feira (12), no Centro Cultural São Francisco, às 16h, no Centro Histórico de João Pessoa. Centenas de pessoas são aguardadas, entre autoridades, membros dos três poderes, amigos, familiares e admiradores do ex-governador do Estado.

Na última segunda, a desembargadora recebeu o autor do blog para um café da manhã, em sua residência, no Altiplano Cabo Branco, em João Pessoa. Foi lá onde viveu por muitos anos ao lado do marido. A casa ainda lembra o ex-governador em cada detalhe. A poltrona preferida dele está no mesmo lugar de sempre. Intacta. Poucos sentam nela, em sinal de respeito.

Também permanece lá, como uma testemunha do tempo, a mesa em que Maranhão reuniu importantes personagens da política estadual e nacional, em sua residência, para definição de alianças políticas. Na sala, um  quadro, pintado a óleo, do artista plástico Bruno Steinbach, com a imagem do dono da casa, deixa claro que saudade é o sentimento predominante lá.

Um dos itens da sala não passa despercebido: um piano, em que Fátima Bezerra dedilha as músicas que marcaram sua história de amor ao lado de José Maranhão: Fascinação (Maurice de Féraudy), Nocturne op. 09 No.2 (Chopin) e Naquela Mesa (Neslon Gonçalves). (Assista ao vídeo abaixo).

O prefácio do livro é assinado pela ex-senadora Nilda Gondim, mãe do senador Veneziano Vital do Rêgo e do ministro do Tribunal de Contas da União, Vital do Rêgo Filho. Nilda sucedeu Maranhão no Senado. A apresentação é feita por Sheyla Barreto, procuradora do Ministério Público de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB), que deu a ideia do livro à Fátima. O posfácio tem a assinatura da escritora e historiadora Maria das Graças Santiago, que ocupa uma das cadeiras da Academia Paraibana de Letras (APL).

Confira, a seguir, entrevista  com Fátima Maranhão 

Felipe Nunes – Como surgiu a ideia do livro?

Fátima Maranhão – Quando ingressei na magistratura, o juiz era uma pessoa que vivia encastelado, estudando. Não frequentava ambientes da sociedade local para não se comprometer. Fui formada num ambiente assim, sentia muito, porque eu gostava de gente. Vim desabrochar depois que Maranhão morreu. Eu evitava fotografia, evitava batizados, aniversários, posses. Evitava para as pessoas não confundirem, não interpretarem que eu fazia política. Sempre fui muito discreta, evitando exposição até mesmo nos meus versos e nos meus poemas. Mas eu tenho essa vocação romântica, de falar de amor. Quando Maranhão chegou em São Paulo para fazer o tratamento, eu tinha a ideia de que iria voltar, mas quando cheguei lá, que vi o estado dele, foi uma punhalada no meu coração. Eu percebi que o caso era gravíssimo. Fiquei desesperada, passou um filme na minha cabeça, dos momentos, das oportunidades. Tinha gente que nem sabia que ele era casado, muito menos comigo. E eu já comecei a sentir saudade daquilo que eu ia perder! Comecei a escrever crônicas para a Paraíba, da dor que eu estava sentindo e dos momentos que eu estava vivendo no hospital. Certo dia, uma amiga, chamada Sheila Barreto, procuradora do Tribunal de Contas da Paraíba, veio me visitar e pontuou: Fátima, dedique-se a preparar um livro para Maranhão, você vai se sentir tão bem, é uma forma de exteriorizar o amor que você tem por ele e atenuar sua tristeza. Faça isso!

Felipe Nunes – Por que houve esse tempo de dois anos e meio? 

Fátima Maranhão – Porque cada vez que eu relia, eu me prostrava. Eu guardava tudo. E agora consegui concluí-lo, sem me emocionar tanto!

Felipe Nunes – Vão ter textos escritos por ele, da época do início do relacionamento?

Fátima Maranhão – Como você sabe? Só vai ter um. Eu quis colocar para as pessoas saberem quantos anos tivemos juntos. Ele escrevia muito para mim, era na época dos cartões postais. Em alguns escritos, ele falava da vida particular, família, projetos. Sempre bem amoroso.

Felipe Nunes – Por que “O Voo do Amor”?

Fátima Maranhão – Porque eu o conheci através de um voo. Eu completara 16 anos. Eu sou uma pessoa que sonho muito. E disse que queria voar de avião. Meu pai falou: Vamos no Aeroclube ver se tem um voo para você. Quando chegamos lá, comentou-se: não tem avião para alugar, mas aquele ali é Zé Maranhão, deputado cassado, o hobby dele é sobrevoar a cidade de avião. E meu pai externou: Ah, eu já sei quem é, é filho de Beija. E Maranhão atendeu: Vamos. Ele ficou olhando  pra mim,  bem respeitador, me tratou como a filha de Waldir, e não como uma pretensa namorada. Só que eu fiquei apaixonada. Cheguei em casa e, encantada, falei: pelo amor de Deus, José Maranhão pilota. Mas meu pai avisou: É verdade, ele pilota, mas tem idade de ser seu pai! Mainha já conhecia Maranhão e era admiradora dele. Isso foi em setembro. Quando foi no Carnaval, de fevereiro para março, nós estávamos no Clube Cabo Branco, e quando eu olho, o vi numa mesa de pista cheia de mulheres, lindas, belas, bacanas. Fiquei de olho nele. Quando eu vi que ele estava em pé, comentei: papai, vamos dançar mais um pouquinho, e quando passei por ele, perguntei: tem voado muito? Ele perguntou o que eu estava fazendo da minha vida. A nossa conversa, até sairmos, foi somente sobre livros e literatura. O olhar dele, de um homem maduro, e eu, de uma moça jovem, saindo da adolescência.  Na quarta-feira de cinzas, ele me dizia: você é a criança que não morreu em mim e a jovem que eu não pensei em encontrar. E com um mês passamos a namorar. Anos depois, veio a minha formatura, a morte do pai dele, a morte da minha mãe, fiz o concurso para a magistratura, passei no concurso… E depois de 13 anos nos casamos.

Felipe Nunes – São quantas crônicas contidas no livro?

Fátima Maranhão- É fininho. Eu coloquei as crônicas mais leves. O livro tem 130 páginas. As primeiras páginas são as crônicas vividas com ele durante a pandemia. Depois são os poemas da época da juventude, e um deles é um poema que ele fez para mim. Começo falando do voo do amor… e também coloquei algumas crônicas de pessoas que homenagearam José Maranhão e que chegaram até a mim. Michel Temer, Sarney… algumas crônicas que chegaram até a mim.

Felipe Nunes – Quem vai manter o legado político de José Maranhão?

Fátima Maranhão – José Maranhão, embora tenha sobrinhos ativamente na política, houve um afastamento deles nos últimos anos. Temos Benjamin Maranhão, que certamente será o prefeito de Araruna, temos Olenka, que não demonstrou mais interesse em uma candidatura. Entretanto, o nome de Maranhão é um nome muito forte, muito presente, e eu entendo que de repente, um dos filhos possa seguir a carreira de pai. Por que não fez antes? Porque Zé Maranhão dizia: estudem, estudem para conquistar sua independência. A política é tão envolvente que, por vezes, a profissão fica prejudicada. Porém, hoje, pensando na falta que ele está fazendo na história política do nosso estado, em face de muitos convites que têm surgido para que possamos participar de embates, temos que pensar. Eu, certamente, sou uma pessoa vocacionada para a Justiça. Não abandonarei o Judiciário, que é uma das razões do meu existir. Conheço muito bem o ser humano, através da aplicação da Justiça. E quando tenho a possibilidade de atender aos mais carentes, sinto-me plenamente realizada. Esse deve ser o norte de um magistrado. Os princípios éticos, morais e cristãos devem ser colocado em primeiro lugar, afinal de contas, o que Ele nos ensina? Nos ensina a amar, amar, amar, inclusive às pessoas que estão litigando, em busca do Direito, e pedir inspiração ao Senhor, para que Ele nos aproxime da verdade, porque falíveis nós somos. Fiz esse comentário apenas para dizer do meu amor à minha função de julgadora. O Tribunal de Justiça é minha segunda casa. Voltando à pergunta. Maranhão deixará sucessor? Ora, Maranhão tem três filhos, um filho no agro, e duas filhas médicas. Maranhão tem sobrinhos, tem genro, tem parentes. Temos esse leque de pessoas com muita garra, com muita coragem, com muita determinação e com muito amor pelos ensinamentos do grande estadista que ele foi. Aqueles que já tiveram oportunidade e aqueles que poderão ter oportunidade. O nome de Maranhão está vivo!

Felipe Nunes

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