Foi através do bordão “Mas eu tô tão feliz, mas eu tô tão feliz”, que a empresária Irene Tavares, da cidade de Areia, no Brejo da Paraíba, viu seu empreendimento ser “catapultado” através das redes sociais. Um vídeo publicado por ela, para a divulgação de promoções de seu estabelecimento, recebeu milhões de visualizações, em diferentes plataformas, milhares de curtidas e tornou a paraibana conhecida nacionalmente.
O boom de Irene Tavares, proprietária do Sol Maior Supermercado, aconteceu num período de dificuldades provocadas por restrições econômicas em decorrência da pandemia, no ano de 2021. Na época, ela decidiu, ao lado de dois de seus colaboradores, gravar vídeos espontâneos para a rede social Instagram, com o objetivo de chamar a atenção para as promoções do seu estabelecimento e, assim, conquistar mais clientes. Os frutos são até hoje colhidos por ela, em 2023.
A empresária não tinha a pretensão de se tornar conhecida e viralizar, mas apenas de divulgar os preços dos produtos sem precisar investir um preço alto por isso. Foram dois vídeos gravados, num intervalo de um mês, na página @solmaior_supermercado, sendo que a segunda gravação, em que aparecem os colaboradores Wellington Andrade e Vital Neto, foi a que mais repercutiu. A forma “peculiar” e diferenciada do vídeo chamou a atenção dos internautas.
“Eu não queria gastar anúncios com carro de som, porque é muito caro. Eu tinha umas promoções para divulgar e pensei: como vou fazer? E foi aí que, dentro do supermercado, fiz uma oração, com fé, com confiança mesmo, porque eu não sabia fazer as dancinhas do tik tok nem das outras redes sociais. Eu tive que fazer algo de mim mesmo, e quando terminei a oração, veio a frase: ‘mas eu estou tão feliz’, e aí gravei o vídeo”.
(Assista ao vídeo abaixo)
O sucesso veio sem querer. Na realidade, Irene e seus colaboradores estavam aprendendo e se adaptando com o ambiente das redes. Mas, com o vídeo viral, eles aproveitaram a oportunidade de crescimento nas plataformas para alavancar o negócio. Com isso, o supermercado passou a receber mais clientes, que além de comprar, queriam também tirar fotos, conhecer pessoalmente a equipe e gravar vídeos repercutindo o famoso bordão. Isso acontece até hoje, já que o meme continua a se multiplicar na internet.
“O número de clientes aumentou. O Supermercado Sol Maior ficou conhecido no Brasil todo e entre os parceiros [comerciais], pois antes muitas pessoas e empresas passavam na minha calçada e não viam o Supermercado. Esses parceiros passavam de um supermercado para outro e não procuravam o meu, mas depois do vídeo, eles me procuraram e eu os recebi. Foi algo muito interessante”, conta.
Bem antes do sucesso, há cerca de 16 anos, o Sol Maior passou por muitas dificuldades, e chegou à falência, quando foi transferido para a propriedade de Irene pelos pais dela, que foram os primeiros donos. Irene recebeu a missão de reerguer a empresa.
Em entrevista ao blog Agenda Política, ela contou que assumiu o estabelecimento com dívidas e sem nenhuma perspectiva de crescimento. A volta por cima, segundo ela, veio com a fé pessoal e com a fidelidade dos seus clientes, que não deixaram de procurá-la, mesmo sabendo que as prateleiras estavam praticamente vazias.
“O mais interessante é que, na época, nós estávamos sem nada, devendo a bancos, devendo impostos, mas eu entrei para administrar, e quando o cliente vinha fazer a compra, eu pegava o dinheiro antecipado, ia em outro supermercado, comprava o produto que ele queria e revendia para ele”, lembra.
Aos poucos, com muita persistência, a marca voltou. O estabelecimento reergueu-se e se estabilizou em Areia. Passado o período de crise, veio a bonança, com a ajuda das redes sociais. O Sol Maior Supermercado tornou-se uma espécie de “point” da cidade histórica, que é também berço de personagens como o pintor Pedro Américo e o escritor José Américo de Almeida.
Agora, além de conhecer pontos históricos da cidade, muitos clientes procuram o supermercado para conhecer a proprietária e até gravar vídeos com o bordão “Mas eu tô tão feliz”.
Com a nova fase da empresa, a rotina de Irene Tavares mudou, já que ela dedica parte do dia para a divulgação de conteúdo nas redes sociais e à clientela, que só aumenta. Ela também busca o aperfeiçoamento na área de divulgação e de marketing, a fim de melhorar as técnicas de produção dos vídeos e a forma como eles são compartilhados nas redes.
“O importante é não ter vergonha, não ter medo, ir em busca. Se você tem um objetivo e um sonho, então lute por ele. Dificuldades irão vir, pois não é fácil, mas vão em busca de seus sonhos. Não se preocupem com as críticas. Se realmente você sabe o que deseja fazer, siga em frente e não se preocupe o que falam de você. Olhar para os outros, só se for para aprender, não com inveja. Só olhar para a frente”, concluiu.
Diversos perfis, nas redes sociais, fizeram paródias e ajudaram a viralizar o vídeo de Irene Tavares. Empresas de outros setores chegaram a gravar vídeos com seus funcionários (Clique aqui e assista). No vídeo a seguir, outra releitura do conteúdo do Sol Maior, publicada pelo canal Timbu Fun.
(Assista ao vídeo abaixo)
Redes abrem novas perspectivas
Muito embora a fase aguda da pandemia já tenha passado, com o fim da emergência global pela Organização Mundial de Saúde (OMS), os reflexos da Covid-19 sobre as relações sociais ainda podem ser notados, inclusive no trabalho e nas formas de empreender, que passaram por um processo de transformação profundo. As redes sociais ganharam uma dimensão maior.
As mulheres, que já enfrentam desafios históricos na área profissional por terem que dividir o tempo entre o trabalho profissional e a maternidade, viram na web uma forma de conciliar as multitarefas. Com demissões, readaptações ou home-office, houve a busca por novos caminhos e o acúmulo de aprendizados que se transformaram em verdadeiras histórias de superação.
De acordo com um levantamento do Sebrae em parceria com a FGV, publicado em 2020, cerca de 69% das empreendedoras mulheres já faziam vendas online ou passaram a adotar esse método durante a crise, enquanto que entre os homens o percentual era de 63%. Assim, a adaptação foi fácil para elas.
Parte considerável desses negócios ganhou corpo pelas redes sociais, já que um efeito colateral “positivo” das últimas transformações sociais foi a maior inserção na internet, gerando novas experiências de negócios.
Um exemplo dessa transição, não ligada diretamente à pandemia – mas que ocorreu durante esse período, é a história da nutricionista paraibana Thaísa Rodrigues. A mudança foi causada pelo nascimento da filha, Sophia, que a fez abdicar da profissão na qual se formou para dedicar-se à família.
Com a nova realidade, Thaísa criou uma loja especializada em vendas de roupas para bebês de 0 a 2 anos. Primeiro, no formato físico, e depois, exclusivamente no âmbito virtual: a @essebebejp. A filha, Sophia, tornou-se a modelo da lojinha.
“O desejo de empreender sempre foi muito forte na nossa família. Só não sabíamos por onde começar. Quando a família aumentou, houve a necessidade de cuidar de nossa filha e eu precisei abrir mão do meu trabalho (como nutricionista)”, contou em publicação nas redes sociais.
De acordo com Thaísa, o fato de estar submersa no universo da maternidade, além de gostar de arrumar a própria filha e a necessidade de agregar uma renda extra, deu-lhe a ideia de trabalhar com vendas de roupas para bebês. “Foi pensando nisso que resolvi trabalhar de casa, cuidar da minha filha e ajudar outras mamães a vestirem bem os seus bebês”, explicou.
Em entrevista ao Agenda Política, ela falou sobre a satisfação pessoal com o empreendedorismo nas redes sociais, tendo transformado um desafio de vida em novas oportunidades.
“A gente consegue enxergar o mundo de outra forma, a gente consegue enxergar outras mães. A minha loja ainda tem poucos seguidores, mas eu não coloco apenas as vendas nessa experiência, eu quero ouvir as mães, eu quero interagir com elas, quero demonstrar que eu também sou mãe e entendo o que elas passam todos os dias”, disse Thaísa.
Uma das estratégias utilizadas por Thaísa Rodrigues é diversificar os meios de divulgação, além de entender as dificuldades de outras mães e utilizar-se da sensibilidade para criar memórias afetivas no momento da compra e da venda dos produtos. Ela também compartilha os conteúdos em mais de uma rede social, buscando interagir e trocar informações com suas clientes.
Thaísa disse que encara a loja virtual como a própria filha, que ainda é uma bebê, e que está crescendo e se transformando. A sensibilidade, segundo ela, é indispensável. “A sacolinha de presente é indispensável, mesmo sendo loja virtual. Preciso repetir aquilo que deu certo, fazer uma sacola personalizada, para que as pessoas cheguem até mim e recebam um presente fofo”, destacou.
(Assista ao vídeo abaixo)
Buscar ajuda é indispensável
De acordo com o estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Microempresas (Sebrae), divulgado em março deste ano, com base em informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até o terceiro trimestre de 2022 a Paraíba contava com 166.023 mulheres donas de negócio, o que corresponde a 34% do total de empresas detectadas no estado no respectivo período.
Um aspecto a ser destacado é que, conforme os números divulgados, 91% das empresárias trabalham por conta própria em seus negócios, ou seja, não possuem nenhum funcionário contratado para auxiliá-las na gestão ou nas rotinas de produção e prestação de serviços de suas empresas. Mesmo assim, é possível buscar ajuda para expandir os negócios.
De acordo com a analista do Sebrae, Ericka Vasconcelos Albuquerque, as redes sociais “têm um papel relevante na construção de um diálogo entre as mulheres empreendedoras e seus clientes”. Esse contato proporciona o desenvolvimento de uma relação mútua, de confiança, gerando o impulsionamento do negócio.
“É importante ter uma comunicação ágil, antecipar-se à necessidade do cliente, conhecer e escutar os clientes, gerando feedback sobre a experiência com sua empresa, construindo assim uma relação de confiança e consequentemente fidelizando essa clientela”, disse em resposta ao blog.
Nesse contexto, é fundamental o treinamento e a capacitação dessas empreendedoras em temas de gestão, como marketing digital, vendas, gestão de fluxo de caixa, aspectos tributários, liderança, planejamento estratégico, inovação e crédito.
“O Sebrae tem programação capacitação presencial e online na área de mídias digitais, bem como consultorias especializadas para apoiar as micro e pequenas empreendedoras a impulsionar suas vendas através dos canais digitais”, lembrou.
Estratégias essenciais
Exemplo de sucesso no empreendedorismo digital, a designer e social media Nara Egídio atua com design e produção de conteúdo para a internet. Esposa e mãe de dois filhos, ela compartilha com outras mulheres, experiências e informações para que elas também alcancem o sucesso profissional através das ferramentas disponibilizadas pelas redes sociais.
Somente no Instagram, @nara.egidio conta com 11,5 mil seguidores, na maioria mulheres, que recebem diariamente dicas de como manusear ferramentas como o Canva, uma das mais acessíveis e práticas para a produção de conteúdo. Uma das principais orientações é a de que a marca e a empresa precisam estar ao alcance do cliente no ambiente digital.
“É indispensável que você esteja nas redes sociais. Você precisa estar lá. Antigamente, tínhamos escolha, mas hoje precisamos aliar o online com o offline”, contou. “Hoje em dia, quando precisamos de um serviço ou produto, sempre procuramos no Google, em um site ou no Instagram, e a marca precisa estar presente, precisa ser uma opção”, lembrou.
Outra dica valiosa é manter uma rotina regular de produção de conteúdos, a fim de manter a fidelidade da audiência. “O cliente não pode ter a sensação de que a loja está fechada, de que não existe mais. É sempre importante manter as informações atualizadas”, enfatizou.
No vídeo a seguir, em um resumo de apenas 3 minutos, Nara Edígio registra dicas importantes para mulheres que desejam empreender nas redes digitais com “o pé direito”.
(Assista ao vídeo abaixo)
Agenda Política – Felipe Nunes