Estelionato ambiental – por Felipe Nunes

Publicado por: Felipe Nunes em

Lula quando era candidato recebendo apoio de Marina Silva / Foto: reprodução da internet

As ações adotadas pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nos seis primeiros meses do seu terceiro mandato, apontam para uma série de contradições políticas, administrativas e éticas em relação ao discurso adotado por ele na campanha contra Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022. Um dos temas preferidos do petista nos embates contra seu adversário, era o meio ambiente.

Depois de eleito, entretanto, o discurso de que resgataria a agenda ambiental do Brasil, com olhar voltado à proteção das florestas, à sustentabilidade e à transição energética, parece que ficou no passado. O que se tem visto, na verdade, são decisões que não só contrariam o discurso petista como apontam para um retorno ao passado, uma visão do século XX.

Não discuto aqui o mérito das ideias de Marina Silva, do meio ambiente, mas elas foram fortemente defendidas por Lula enquanto era candidato. Na semana passada, entretanto, petistas apoiaram e comemoraram, na Comissão Mista, a aprovação da Medida Provisória que muda o desenho da Esplanada dos Ministérios e esvazia a pasta da atual ministra.

Segundo o texto, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) agora estará vinculado ao Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. Os sistemas de saneamento básico, resíduos sólidos e recursos hídricos vão para o Ministério das Cidades e a A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) será vinculada ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

Ainda conforme o texto aprovado, o Ministério da Justiça e Segurança Pública voltará a responder pelo reconhecimento e pela demarcação de terras indígenas, atribuições que haviam sido delegadas ao Ministério dos Povos Indígenas, criado em janeiro por Lula.

Pasmem! Tudo foi aprovado com o aval de petistas, que chegaram a comemorar o feito nas redes sociais. Coube à oposição fazer a defesa de Marina Silva no Senado. O deputado Kim Kataguiri (União-SP) declarou posição contrária às alterações no Ministério do Meio Ambiente. “Esvaziar o ministério é uma questão institucional, e essas mudanças serão prejudiciais, mesmo que eu discorde veementemente da ministra”, explicou.

Boicote

O boicote ao meio ambiente, entretanto, não parou por aí. Depois de acusar o opositor de ser negligente com a pauta ambiental, e de interferência em órgãos técnicos do governo, Lula tem dado sinais dúbios sobre o parecer técnico do Ibama contra a exploração de petróleo na Amazônia.

Até acho, particularmente, que o Governo Federal deveria dar o aval à empresa estatal para tal exploração, em nome do desenvolvimento nacional, garantindo a preservação do ecossistema local.

Mas para Lula essa não seria uma equação tão simples de resolver? Bastaria fazer a defesa de sua ministra do meio ambiente, impedir a exploração e dizer: eu assino embaixo do parecer técnico do Ibama. Não vai ter exploração na Amazônia!

Carros populares

Na última semana, mais uma medida do Governo Federal deu sinais de que o atraso ronda o Palácio do Planalto. Enquanto o mundo todo discute a transição energética e o desenvolvimento de novas tecnologias para a locomoção humana, o presidente anunciou a desoneração do setor automobilístico.

O desconto de impostos será pequeno. Um carro que vale R$ 70 mil terá um “desconto” de dez mil. O intuito, segundo o Governo, é proporcionar que o pobre compre carro, além de aquecer o setor e gerar empregos. Eu só consigo pensar em três coisas: trânsito caótico, poluição e endividamento dos pobres.

Por que não investir em transporte público de qualidade? Por que não anunciar medidas para o barateamento de carros elétricos? Por que não propor ações de ampliação da malha ferroviária nacional? O modelo que Lula propõe não resolve o problema e, a médio e longo prazos, transformará o Brasil no retrato de um país fracassado.

É bem verdade que, em viagens internacionais, o presidente conseguiu angariar alguns bilhões de reais, em tese, para a proteção da Amazônia. Mas, enquanto o governo bate cabeça na pauta ambiental, contrariando o discurso de campanha, o desmatamento da maior floresta do mundo, e do Cerrado, crescem mês após mês, segundo as fontes do próprio governo.

Parece que a grande conquista ambiental é a perda gradativa da soberania nacional nesse campo. Ganhamos o direito de que outros países ditem o que devemos fazer enquanto não fazemos nada. Puro estelionato [eleitoral] ambiental.

Agenda Política – Felipe Nunes

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