BOAS PRÁTICAS NO USO DA ENERGIA ELÉTRICA: projeto da UFPB faz inspeções, orienta estudantes e previne acidentes em instalações

Grupo faz inspeções em instalações elétricas e promove ações de conscientização / Arte: Marcelo Júnior / Felipe Nunes

Um projeto desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) tem concentrado esforços na inspeção de instalações elétricas dentro e fora dos muros da instituição. O objetivo é corrigir problemas, prevenir eventuais acidentes ocasionados por falhas nessas instalações e ensinar quais são as condutas adequadas que devem ser adotadas quando se fala em eletricidade.

Criado em 2017 por pesquisadores do Centro de Energias Alternativas e Renováveis (CEAR), o projeto Inspeções das instalações elétricas: boas práticas no uso da energia busca resolver situações de irregularidade e de má conservação nas instalações e preservar o bem-estar de estudantes, funcionários e da população. Isto ocorre em meio a notícias cada vez mais frequentes sobre mortes ocasionadas por choques elétricos.

Trata-se de uma preocupação com base em dados concretos, que merecem atenção das autoridades públicas. De acordo com o Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica 2022, publicado pela Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), a Paraíba é o terceiro estado do Nordeste com maior número de acidentes com mortes (31) ocorridas no ano de 2021.

A região Nordeste é onde os acidentes com mortes mais ocorrem, de acordo com o levantamento. Foram 242 somente em 2021, sendo que o estado de Pernambuco lidera o ranking regional, com 49 mortes, seguido de Bahia, com 45 ocorrências. Alagoas aparece na quarta posição, com 30 casos, e em seguida, Piauí, com o mesmo número de acidentes.

De acordo com a Abracopel, uma hipótese que pode explicar a liderança do Nordeste no ranking é a falta de preocupação com a formação dos trabalhadores do setor e com a responsabilidade técnica das obras executadas, o que abre brechas para a ocorrência de falhas graves nas instalações.

Segundo o levantamento da associação, em todo o país foram 1.585 acidentes de origem elétrica em 2021, resultando em 761 mortes. Do total de mortes, 674 foram motivadas por choques elétricos, 47 em decorrência de incêndios por sobrecargas e 40 mortes ocasionadas por descarga atmosférica.

INSPEÇÃO E ORIENTAÇÃO

Grupo faz palestra na Escola de Cônego Luiz Gonzaga, em outubro de 2022 / Foto: arquivo pessoal

O projeto de extensão é coordenado pelo professor Alexandre Cézar de Castro, do Departamento de Engenharia Elétrica da UFPB, tendo como vice coordenador o professor Nady Rocha. O trabalho se divide em duas frentes principais: na inspeção de instalações elétricas e na conscientização sobre o tema.

A iniciativa conta com a participação de 9 estudantes (8 alunos do curso de Engenharia Elétrica e 1 aluno do curso de Energias Renováveis) e de 3 professores.

“Nossa ação na comunidade acontece com a realização das inspeções e vistoria das instalações elétricas, buscando aumentar a qualidade das instalações e, consequentemente, reduzir o risco de choques e acidentes. Outras ações são a realização de palestras para prevenção de choque elétricos e o engajamento oriundo das postagens realizadas nas redes sociais do projeto, principalmente por meio da plataforma do Instagram”, disse Alexandre.

O perfil do grupo no Instagram, @2ie.ifpb , busca difundir conhecimento sobre o manuseio correto das instalações elétricas e compartilha as rotinas de pesquisa dos integrantes do projeto. Dentro da UFPB, pelo menos 4 Centros de ensino já foram atendidos pelo projeto: Centro de Tecnologia, Centro de Energias Renováveis, Centro de Biotecnologia e Central de Aulas. Fora da instituição, foi atendido recentemente o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), em João Pessoa.

Uma das missões dos estudantes que participam do projeto é elaborar laudos técnicos que apontam desconformidades com as normas vigentes na área de energia elétrica e orientar adequadamente os responsáveis pelos setores vistoriados quanto às correções que devem ser feitas nas instalações elétricas.

“Nós criamos laudos que apontam as desconformidades com as normas vigentes na área de energia elétrica. Neste contexto, o projeto identifica situações de risco de choques elétricos, contribuindo assim, na redução de acidentes com eletricidade. Além disso, o projeto tem uma ação educacional e social com a realização de palestras educativas para prevenção de choques elétricos e eficiência energética para alunos e professores das escolas de ensino médio”, explicou Castro.

Segundo o diretor do Centro de Energias Alternativas e Renováveis (CEAR), Euler Macedo, que apoia o projeto institucionalmente, a pesquisa funciona como uma consultoria especializada e é financiada pelo Programa de Bolsas de Extensão (PROBEX) da UFPB há 4 anos, de forma ininterrupta. “O projeto beneficia não só a comunidade acadêmica, mas extramuros, como escolas e outras instituições, tudo de forma gratuita”, disse. (ASSISTA AO VÍDEO ABAIXO).

 

POR TRÁS DOS NÚMEROS: VIDAS

Se imaginarmos que por trás de cada número há uma vida, eleva-se ainda mais a preocupação com a qualidade das instalações elétricas. E quando levamos em conta que as crianças são cada vez mais as vítimas fatais dos choques elétricos, em decorrência de imprudência ou de defeitos nas instalações, essa preocupação reveste-se de uma sensibilidade ainda maior.

De acordo com a Abracopel, entre os anos de 2013 e de 2022, 342 crianças de 0 a 10 anos perderam a vida, na grande maioria em ambientes residenciais, pela ausência do DR (Dispositivo Diferencial Residual), um mecanismo de segurança utilizado em instalações elétricas, responsável por detectar fugas de corrente em circuitos elétricos e acionar o desligamento imediato da alimentação.

Um triste exemplo é o caso de Darley Emanuel, de apenas 8 anos de idade, que morreu em dezembro de 2021 após sofrer uma descarga elétrica na Zona Rural de Santa Helena, no Sertão da Paraíba. Segundo os relatos, a criança teria colocado o celular para carregar em uma tomada quando sofreu a descarga. Apesar de socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.

Segundo o Anuário, em 2021 foram registradas 16 mortes ocasionadas por acidentes de origem elétrica com celular, além de 9 incêndios provocados pelo mesmo motivo, sendo 1 incêndio fatal. De acordo com a Abracopel, as baterias não originais e as instalações elétricas em péssimas condições também colaboram para esse resultado. Os acidentes atingem principalmente os adolescentes, usuários que costumam utilizar os aparelhos durante o carregamento.

O Anuário também aponta que, entre os casos contabilizados de acidentes por choques elétricos em 2021, 215 ocorreram em ambientes residenciais, resultando em 190 mortes.

FUNÇÃO PEDAGÓGICA

Pensando em casos como o de Darley, uma das facetas do projeto da UFPB é a realização de palestras para estudantes do ensino médio de escolas públicas da Paraíba. O objetivo é motivar o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre as instalações elétricas, criando uma cultura de sensibilidade que possa se refletir nos lares.

Uma das instituições assistidas pelo projeto, em 2022, foi a Escola Estadual de Ensino Médio Cônego Luiz Gonzaga de Oliveira, no bairro de Mangabeira. O contato para agendamento da palestra pode ser realizado pelas escolas públicas através do Instagram do grupo.

“Geralmente, nós professores entramos em contato com algum responsável pela escola para o agendamento das apresentações. Ao firmamos a parceria com a escola, marcamos um ou mais dias para realização das palestras em um dos temas citados. Durante as palestras, fazemos dinâmicas como perguntas e repostas, entregas de brindes, para que os alunos possam interagir e despertar ainda mais curiosidade sobre o assunto abordado”, disse o coordenador do projeto.

 

Luís Felipe faz inspeção em instalação elétrica do Laboratório do Modelagem de Materiais / Foto: arquivo pessoal

Luís Felipe de Lima Pereira, do 7º período do curso de Energia Elétrica e integrante do projeto, é um dos que participam de palestras em escolas públicas. Para ele, além de contribuir para uma mudança efetiva nas condições das instalações elétricas, evitando riscos de acidentes e preservando vidas, a pesquisa também é uma oportunidade para desenvolver o conhecimento prático.

Acredito que um dos pilares de um projeto de extensão ou pesquisa é o retorno a sociedade do conhecimento gerado e produzido dentro das universidades públicas. Desta forma, as palestras além de devolverem um pouco do conhecimento que é gerado no projeto para comunidade, conscientizando e despertando a curiosidade do público alvo do projeto, que são adolescentes, elucida a muitos deles os porquês de coisas que movem o mundo, como a eletricidade”, disse.

“O projeto me dá a possibilidade de vislumbrar situações do cotidiano de um engenheiro eletricista, uma vez que participo da confecção de laudos técnicos, das inspeções e constantemente preciso revisar as NBR’s 5410, 14136  -duas das normas brasileiras sobre instalações elétricas -, para saber das desconformidades nas instalações vistoriadas. Acredito que com isso já saio com experiência de campo, mesmo ainda estando na graduação, o que se torna um diferencial quando eu ingressar no mercado de trabalho”, acrescentou.

O TRABALHO DO CORPO DE BOMBEIROS

Além do trabalho desenvolvido pelos estudantes da UFPB, que é um diferencial quando se fala em prevenir acidentes, a atuação do Corpo de Bombeiros também é indispensável, tanto no sentido pedagógico quanto no socorro de vítimas de choques elétricos em todo o estado da Paraíba.

De acordo com a 2ª Tenente do Corpo de Bombeiros Militar da Paraíba, Laísa Ribeiro, uma das causas mais frequentes de incêndios em residências se deve a irregularidades nas instalações elétricas. O Anuário Estatístico Abracopel revela que, somente em 2021 foram 637 incêndios provocados por sobrecarga. Desse quantitativo, 9 ocorrências foram na Paraíba.

“Por mais que a eletricidade desempenhe um papel primordial em nossas vidas, não podemos ser desatentos ou subestimá-la, pois uma das causas mais frequentes de incêndio em residências se deve a danificações nas instalações elétricas”, disse.

Em resposta ao blog Agenda Política, Laísa Ribeiro elencou uma série de cuidados que os consumidores precisam ter com as instalações elétricas, com base na NBR 5410, que tem como objetivo estabelecer condições adequadas para as instalações elétricas de baixa tensão no país. “Devemos ter cautela para, assim, promover a redução de acidentes domésticos. Por exemplo: um disjuntor corretamente instalado e bem dimensionado vai proteger as instalações e desarmar em caso de sobrecarga ou curto-circuito”, exemplificou. (ASSISTA AO VÍDEO ABAIXO).

 

Para o estudante Luís Felipe de Lima, o poder público deveria dar uma atenção maior a iniciativas que visam prevenir acidentes com instalações elétricas, o que possibilitaria a diminuição de custos com saúde e a preservação de muitas vidas. “Eu acredito que o projeto deveria ter um pouco mais de atenção, pois lida diretamente com questões voltadas à saúde, segurança e questões financeiras. Muitas pessoas não utilizam a energia elétrica de forma consciente e nem estão preocupadas para o quão perigoso ela pode ser, se manipulada de forma incorreta, ou simplesmente negligenciada. Acredito que seria muito proveitoso se projetos nesse sentido fossem disseminados em outras universidades”, opinou.

Confira a galeria de fotos a seguir

Felipe Nunes – Blog Agenda Política

14 / 01 / 2023